A atualização da NR-01 Norma Regulamentadora nº 01, que entra em vigor em 26 de maio de 2025, trouxe uma mudança silenciosa, mas profunda, na forma como as empresas precisam lidar com a saúde mental no trabalho.
A partir dessa data, a identificação, análise e gestão dos riscos psicossociais passam a ser obrigações legais para organizações de todos os portes.
Ou seja: não basta mais falar que saúde mental é importante. Agora, ela precisa estar documentada, planejada e integrada à cultura de gestão de riscos.
O que muitas empresas ainda não perceberam é que esse novo cenário exige algo além de formulários e treinamentos genéricos.
Exige uma compreensão mais profunda das relações humanas — especialmente daquelas que, sem intenção, minam o bem-estar de quem trabalha.
E é aqui que entra a Análise Transacional (AT).
Criada pelo psiquiatra Eric Berne, a Análise Transacional é uma teoria psicológica simples de entender, mas profunda em aplicação, especialmente no contexto das relações interpessoais dentro das organizações.
Ela nos oferece recursos práticos para identificar padrões de comunicação, conflitos recorrentes e dinâmicas invisíveis que afetam a produtividade, a saúde emocional e o clima das equipes.
Entre os conceitos mais importantes da AT, quatro se destacam quando falamos de saúde mental nas empresas:
Segundo a AT, todos nós operamos a partir de três grandes sistemas internos de pensamento, sentimento e comportamento chamados de Estados do Ego:
•Pai: incorpora normas, crenças e valores internalizados de figuras de autoridade.
•Adulto: é o estado racional, objetivo, conectado ao aqui e agora.
•Criança: reúne emoções, impulsos e memórias das vivências da infância .
Esses estados se alternam em nossas relações. Um líder que atua constantemente com sua energia ativada no Estado do Ego Pai Crítico, por exemplo pode gerar medo e bloqueio em sua equipe, enquanto uma pessoa que acessa seu Estado do Ego Criança Natural pode trazer leveza e criatividade para os processos. Já a atuação a partir do Adulto tende a promover relações equilibradas e assertivas — fundamentais em ambientes organizacionais saudáveis.
Desenvolver consciência dos próprios Estados do Ego é o primeiro passo para atuar de forma íntegra e evitar padrões reativos que alimentam conflitos e desgaste emocional.
A comunicação entre as pessoas é identificada na Análise Transacionals em trocas chamadas de Transações. Essas podem ser:
•Complementares: quando o estímulo e a resposta se alinham (ex: Adulto → Adulto).
•Cruzadas: quando há um desvio na expectativa (ex: Adulto → Criança, com resposta do Pai).
•Ulteriores: quando há uma dupla camada de sentido — a explícita e a implícita .
Em ambientes de trabalho, líderes que não reconhecem essas nuances podem reforçar mal-entendidos, prejudicar a escuta e intensificar tensões silenciosas — tudo o que a NR-01 busca prevenir. Ao compreender os tipos de transações, podemos ajustar nossa comunicação e ampliar a compreensão, a empatia e a cooperação entre as pessoas.
Lideranças que não percebem esses padrões muitas vezes reforçam mal-entendidos, desgastes e conflitos silenciosos — fontes diretas de riscos psicossociais.
Outro conceito central da Análise Transacional é a ideia de que cada pessoa carrega uma crença profunda, muitas vezes inconsciente, sobre si e os outros. As Posições Existenciais são crenças profundas, muitas vezes inconscientes, que moldam a forma como nos colocamos no mundo. São quatro as Posições Existenciais:
•Eu estou OK – Você está OK: base de relações saudáveis e respeitosas.
•Eu NÃO estou OK – Você está OK: sensação de inadequação e subserviência.
•Eu estou OK – Você NÃO está OK: julgamento, autoritarismo, desprezo.
• Eu NÃO estou OK – Você NÃO está OK: desesperança, cinismo .
Culturas organizacionais tóxicas frequentemente operam a partir das três últimas posições. Já uma cultura baseada no “+/+” (Eu OK – Você OK) é aquela que favorece o cuidado mútuo, a confiança e o pertencimento — pilares da saúde mental no trabalho. Trabalhar com AT é também um exercício de promover essa mudança de paradigma relacional.
Trabalhar para desenvolver uma cultura baseada no “Eu OK – Você OK” é fundamental para prevenir sofrimento mental no ambiente de trabalho.
Talvez o conceito que mais gera interesse, pois todas as pessoas, em algum momento de suas vidas identificaram algo que podem chamar de “Jogo Psicológico”. Na Análise Transacional os Jogos Psicológicos são entendidos como uma série de trocas de Transações Ulteriores, ou seja com um sentido equívoco e oculto. Eles são padrões de interação repetitivos, disfuncionais e carregados de tensão emocional.
Criado por Stephen Karpman, o Triângulo Dramático descreve três papéis que as pessoas costumam assumir (de forma inconsciente) em interações disfuncionais:
Como se comporta: Critica, cobra, julga, impõe regras ou acusa com dureza. Pode parecer que tem razão ou que está “fazendo o certo”, mas a forma como age é agressiva ou controladora.
🔹 Frases típicas:
“Você nunca faz isso direito!”
“Se não fosse por mim, isso aqui já teria desandado!”
“É sempre você que atrasa tudo.”
O que esconde: Muitas vezes, o Perseguidor está tentando proteger algo — a ordem, os resultados, a própria insegurança. Mas age sem empatia, provocando medo ou resistência.
No ambiente de trabalho: Líderes ou colegas que sempre apontam o erro dos outros, que anulam opiniões, ou que exigem mais do que as pessoas conseguem entregar, muitas vezes sem diálogo.
Como se comporta: Sente-se impotente, injustiçada, desvalorizada. Espera que alguém resolva seus problemas ou tome decisões por ela. Pode parecer frágil, mas também manipula ao se colocar como alguém que “não pode fazer nada”.
🔹 Frases típicas:
“Comigo é sempre mais difícil.”
“Eu queria ajudar, mas ninguém me dá espaço.”
“Não adianta tentar, nunca dá certo mesmo.”
O que esconde: A Vítima tem dificuldade de assumir responsabilidade. Está presa a uma crença de incapacidade, mas ao mesmo tempo ganha atenção, proteção ou isenção por se manter nesse papel.
No ambiente de trabalho: Colaboradores que sempre se colocam como sobrecarregados, mas não pedem ajuda nem dizem “não”. Ou pessoas que dependem demais do gestor para agir.
Como se comporta: Tenta “resolver tudo” pelos outros, mesmo quando ninguém pediu ajuda. Assume responsabilidades que não são suas, evita o confronto e faz de tudo para “consertar” os problemas alheios.
🔹 Frases típicas:
“Deixa que eu faço por você.”
“Você não precisa se preocupar, eu resolvo isso agora.”
“Eles precisam de mim para dar certo.”
O que esconde: O Salvador parece generoso, mas muitas vezes age movido por uma necessidade de ser necessário, ou para fugir da própria dor. Ao “salvar demais”, impede o outro de crescer e se responsabilizar.
No ambiente de trabalho: Líderes que centralizam tudo, que não delegam, que vivem apagando incêndios. Ou colegas que sempre tomam a frente, mas depois se ressentem por “fazerem tudo sozinhos”.
Esses jogos se desenrolam sem que as pessoas se deem conta, e sempre terminam com sentimentos negativos: culpa, raiva, frustração, vergonha. Exemplos são abundantes no cotidiano corporativo:
•O colaborador que se faz de incapaz e espera que o líder o salve — para depois reclamar da microgestão.
•A líder que acolhe, acolhe, acolhe — e depois explode.
•A equipe que se mantém em silêncio e passiva, enquanto reclama da liderança “que não escuta”.
Esses padrões drenam energia, comprometem o clima e colocam em risco o bem-estar emocional das equipes. São, portanto, alvos diretos da política de prevenção aos riscos psicossociais. E a boa notícia é que a AT nos oferece ferramentas práticas para identificar, nomear e transformar esses ciclos .
Esses jogos geram ambientes tóxicos, com desgaste emocional e adoecimento mental — justamente o que a nova NR-01 quer evitar.
A boa notícia?
A Análise Transacional oferece métodos simples para identificar, interromper e transformar esses padrões.
Como a Análise Transacional pode ajudar sua empresa a atender (de verdade) à nova NR-01?
Cumprir a nova NR-01 não significa apenas aplicar um diagnóstico de clima e oferecer um workshop qualquer.
Significa atuar nas raízes da comunicação, da liderança e da cultura organizacional.
E a Análise Transacional oferece um caminho robusto, acessível e aplicável para isso.
Com programas baseados na AT, é possível:
Promover saúde mental nas empresas vai muito além de campanhas ou palestras isoladas. Requer investimento consistente em consciência relacional, espaços de escuta, e processos educativos que fortaleçam a autonomia e a autorresponsabilidade.
A Análise Transacional oferece uma linguagem acessível, profunda e imediatamente aplicável para desenvolver líderes e equipes mais conscientes, mais saudáveis — e mais humanos.
Se sua organização está se preparando para os desafios trazidos pela nova NR-01, vale a pena incluir a AT nesse caminho.
Queremos te ajudar a construir esse próximo capítulo. Vamos conversar?
A NR-01 vem exigir o que, no fundo, sempre foi essencial:
Responsabilidade real sobre o impacto emocional das relações no trabalho.
Com o suporte da Análise Transacional, empresas e lideranças têm a oportunidade de ir além do discurso e construir culturas verdadeiramente saudáveis, éticas e eficazes.
Se você deseja levar esse tipo de abordagem para sua equipe ou sua empresa, entre em contato conosco.
Vamos conversar sobre como aplicar a AT na sua realidade — com método, sensibilidade e foco em resultados duradouros.