Ângela Kafrouni
Nesse momento, as calorosas boas-vindas, perguntas para conhecer quais as experiências que os alunos trazem e as expectativas do grupo são formas de prover acolhimento. Por outro lado, também é adequado prover respostas sobre como o curso vai acontecer. Como adultos responsáveis, queremos ter informações, que nos permitam exercer autonomia sobre a forma como vamos participar e por esta razão os alunos apreciam ser esclarecidos sobre quais os objetivos do treinamento, conteúdos, metodologias utilizadas, avaliação da aprendizagem, entre outras. Faz parte ainda desse momento de inclusão, convidar os participantes a refletirem sobre a sua contrapartida e se comprometerem para que a aprendizagem aconteça. Por último, uma boa medida é deixar tudo registrado como um contrato entre as duas partes desse processo, quem ensina e quem aprende
A psicologia humanista, na voz Carl Rogers, Linderman e Andragogia de Knowles, há muito já enfatizam a participação e envolvimento completo de quem aprende, na sua inteireza, não só o intelecto, mas também seus sentimentos, experiências, autoconceito de adulto que é atuante no processo. Mas agora a pergunta é: como conseguir isso com alunos conectados em uma plataforma virtual de ensino e aprendizagem?
Estamos vivendo um novo cenário, no qual o ensino on-line não tem sido uma entre muitas opções de aprendizagem como ocorria antes de 2020. Atualmente pessoas que provavelmente não escolheriam esse formato e que talvez não tenham tanta afinidade com tecnologias estão se vendo diante de plataformas digitais, muitas vezes sem estarem equipados com tablets ou notebooks competentes, bons hábitos para estudo on-line, boa conexão de Internet, espaço adequado para estudo.
Uma situação que causa obstáculo ainda maior, a “bi-pessoalidade”, a pessoa quer dar conta de participar em duas reuniões ao mesmo tempo, está na aula e na reunião com a equipe de trabalho. Poderia mencionar também o aluno que está “bi-partido”, está fazendo duas tarefas que não se combinam, está dirigindo na autoestrada enquanto tenta participar da aula pelo celular, com a atenção no tráfego, ouvindo fragmentos dos exercícios realizados em sala por causa da queda de sinal na estrada.
Como lidar com tudo isso e fazer do ensino on-line uma experiência de aprendizagem significativa a partir desta primeira fase de acolhimento e contrato? Como promover essa integração quando os alunos demonstram timidez, não se expressam e permanecem com as câmeras fechadas? Estamos percebendo essa situação descrita como evento recorrente em nossas salas de aula e quero compartilhar alternativas que estamos utilizando.
Em primeiro lugar, vamos nos lembrar de um comportamento comum, você chega para conduzir um workshop ou ministrar uma palestra e as pessoas estão sentadas nas últimas fileiras. Não é raro o palestrante convidar as pessoas para se achegarem a frente e elas decidirem permanecer atrás mesmo. Então qual a surpresa que no espaço on-line os participantes estejam com as câmeras fechadas? É a versão on-line que traduz a escolha de sentar no fundão.
Como compreender essa situação para poder lidar com ela? Proponho um encaminhamento em duas direções:
Importante começar entrando em contato para identificar qual o sentimento que se instala em você professor. Que tal refletir sobre isso? Não posso controlar se eles estão participando ou se estão fazendo outra atividade. Seria incômodo por não ser possível exercer controle? Por que eu me sinto na responsabilidade de controlar? Como eu lido com situações que fogem do meu controle?
Ou seria necessidade de receber feedback? Porque quando eu estou vendo meus alunos eu noto que alguém abriu a boca sinalizando cansaço ou enfado, expressões faciais de concordância, apreço, entre outras. Que alternativas tenho para receber feedbacks no ambiente virtual?
Quanto ao olhar para o grupo de participantes, é bom lembrar que um estrategista muda o caminho e os meios para chegar a um destino, mas não muda o destino, ou o objetivo a ser atingido. Da mesma maneira a necessidade de buscar a inclusão persiste, o que vai mudar são as formas de trabalhar essa inclusão.
Ainda na construção desse caminho, vou compartilhar aqui como estou lidando com essas questões. Normalmente em capacitações, eu costumo trabalhar os aspectos do contrato no primeiro encontro. Percebi que precisava ajustar o tempo, não seria possível propor contratos quando não conseguimos inclusão. Então segui trabalhando a integração deles em subgrupos menores em salas simultâneas. Também utilizei exercícios onde eles puderam dar respostas em plataformas de interação, que possibilitam interações com grau menor de exposição.
Fui caminhando em passos mais lentos nessa inclusão, a cada encontro um fortalecimento dessa relação e planejei para a terceira aula o fechamento dos combinados: os procedimentos a serem adotados e a contrapartida deles. Para refletir sobre essa contrapartida, convidei a pensar sobre a reserva de tempo na agenda para o horário de aula e a estabelecer bons hábitos de estudo. Esse foi o momento falar sobre a criação de novas maneiras de se comprometer com o que deseja aprender.
Para a necessidade de receber feedback sobre o acompanhamento da aula, eu fui clara e mencionei que precisava ter esse retorno porque tenho interesse em fazer a minha parte para que a aprendizagem aconteça. Eles prontamente responderam às perguntas que fiz pelo chat. Entendi que posso buscar e acolher outras formas de participação.
E assim seguimos, com a segurança de estar apoiada em conceitos sólidos sobre a aprendizagem, é possível experimentar alternativas e encontrar caminhos que atendam às demandas do cenário atual, sempre de forma responsável.