Carmem Sant’Anna
Outro dia um participante nos perguntou: “o que fazer se durante uma aula online passar pela frente da câmera de alguém uma pessoa que acaba de sair do banho, por exemplo”? “Ou um participante tiver acesso a algum recurso da plataforma e postar no meio da aula uma imagem ou informação que provoque aquele constrangimento”?
Bem lembrado! Situações imprevistas podem acontecer em ambientes de sala de aula, tanto no modelo presencial como virtual. A questão levantada pelo participante foi oportuna porque estávamos falando da ferramenta da Andragogia – Contratos/Combinados.
Estávamos conversando sobre as ideias de alguns autores que tratam do conceito de “Contrato de Aprendizagem” visto na Andragogia como estratégia de preparo do aluno para a sua participação ativa como corresponsável pelo seu processo de aprendizagem.
A conversa girava em torno do fato de que o facilitador, habilitado a trabalhar com adultos, conta com apoio teórico suficiente para conduzir o processo levando os alunos a descobrir que ser “aluno” enquanto adulto é diferente. Por quê? Porque o aluno é convidado a refletir e discutir com o facilitador e seus pares sobre sua experiência, a pensar sobre si mesmo e seus objetivos de aprendizagem. O aluno é convidado a assumir sua responsabilidade pelo que vai aprender de forma ativa, assumindo o papel de protagonista de sua própria aprendizagem.
O participante, porém, trouxe um olhar que merece nossa atenção como facilitadores de grupos virtuais. Em nossa experiência temos notado que a elaboração de contratos claros antecipa a solução de problemas, tais como os de convivência em grupo, sobretudo em ambientes online com interações fluidas e ainda pouco debatidas entre nós, facilitadores, sempre sujeitos a vivenciar situações como as mencionadas no início desse artigo.
É no momento da construção colaborativa do contrato que é combinada a forma como cada um assume sua responsabilidade de se relacionar com os colegas, com o facilitador e o ambiente, seja presencial ou virtual. Combinar o que é, e o que não é permitido, para que os objetivos da aprendizagem sejam atingidos. Cada um é responsável para fazer valer o que for combinado.
Assim, sempre faça Contratos / Combinados em suas aulas online e quando for fazer lembre-se do seguinte:
Essa discussão entre os pares, evidencia que eles têm poder para impactar tanto para o sucesso como para o fracasso de sua aprendizagem.
Algumas vezes quando apresentamos as dicas acima, alguns participantes perguntam: “Mas toda essa discussão não parece enrolação? Não é perda de tempo?” A resposta é: não é perda de tempo, nem enrolação.
O contrato feito dessa forma é ganho de tempo e energia do grupo. Antecipa a resolução de problemas antes que eles ocorram. Serve para dar o tom de um clima de confiança, compromisso e corresponsabilidade. Eleva a qualidade das relações interpessoais e define papéis.
O contrato é uma ferramenta que pode ser revisada a qualquer momento visando o melhor resultado da aula e serve de base comum de compromisso para todos quando as dúvidas surgirem. E claro, nada impede que ele ser quebrado de vez em quando e você simplesmente de boas risadas junto com os alunos em situações que vão estar fora de controle, pois a Andragogia é viver o processo e não prever tudo.
Quer saber mais sobre a ferramenta Contrato? Faça o curso de Andragogia com a gente.
Referências:
KOLB, David Allen. Psicologia organizacional: uma abordagem vivencial. São Paulo: Atlas, 1978. p. 32.
KNOWLES, Malcolm. Aprendizagem de resultados: uma abordagem prática para aumentar a efetividade da educação corporativa. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.